Curitiba,Número de mortes induzidas na UTI do Evangélico pode ser bem maior, diz auditor do MS
O número de casos suspeitos de mortes provocadas em pacientes da UTI do Hospital Evangélico, em Curitiba, pode ser maior que os sete casos denunciados pelo Ministério Público do Paraná, segundo afirmou neste domingo (24) em entrevista ao "Fantástico" o auditor do Ministério da Saúde Mario Lobato, coordenador de uma sindicância sobre o caso na unidade. A sindicância identificou ao menos outros 20 casos semelhantes aos citados na denúncia.
"São mais de 20 casos já, e nós temos quase 300 já para fazer o
fechamento", disse Lobato. A equipe chefiada por ele analisa mais de
1.700 prontuários de pacientes atendidos desde 2006 na UTI.
A morte de Ivo Spitzner em janeiro deste ano é um dos sete casos do
processo contra a médica Virgínia Helena Soares de Souza, ex-chefe da
UTI do Hospital Evangélico, em Curitiba.
A equipe chefiada pelo auditor está analisando mais de 1,7 mil
prontuários dos últimos sete anos, e também as provas do processo. “O
depoimento das pessoas que trabalhavam lá dentro confere praticamente,
totalmente, com os prontuários que foram analisados”, aponta Mario.
Pacientes que precisam de respiração por aparelhos, como aconteceu com
Ivo Spitzner, recebem diferentes percentuais de oxigênio, conforme a
necessidade. Em casos irreversíveis, a equipe médica e a família podem
decidir regular a máquina para o mínimo de 21%. Com essa concentração, a
morte acaba vindo naturalmente - é o que se chama de ortotanásia, um
procedimento que não é ilegal no brasil.
O prontuário de Ivo Spitzner, obtido com exclusividade pelo Fantástico,
mostra que às 6h do dia em que morreu, ele recebia oxigênio a 45%. Duas
horas depois, passou a receber 22%, quase o limite mínimo, sem que a
família soubesse.
Na prescrição médica, às 9h39, foram administrados três medicamentos. Um deles é o Pavulon.
O Pavulon faz todos os músculos pararem, inclusive os da respiração.
Quando usado corretamente, ele permite que o aparelho controle toda a
respiração, sem que o corpo precise se esforçar.
Às 10h30, uma hora depois de receber as medicações, ele morreu. Para o
Ministério Público e o coordenador da sindicância, foi essa combinação
de procedimentos que matou Ivo e os outros pacientes da UTI.
“Todos eles o mesmo modus operandi, têm a mesma relação entre a droga e o óbito, o horário bate”, afirma o Dr. Mário Lobato.
O doutor Mário Lobato, cardiopediatra com 30 anos de carreira, revela
ainda que alguns dos doentes estavam acordados e conscientes, momentos
antes da morte.
“Um deles estava consciente, sob nebulização, não estava ligado ao
respirador. A outra foi uma paciente que pediu um copo de água para a
enfermeira”.
A médica Virgínia Soares de Souza foi solta esta semana, depois de um
mês em uma prisão especial. Vai responder em liberdade como os outros
sete réus. Nenhum deles quis gravar entrevista.
O advogado de Virgínia diz que ela não fez nada de errado. “Nós
poderemos, em breve, provar que tudo que aconteceu naquela UTI tem
justificativa na literatura médica”, afirma Elias Mattar Assad.
O presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, José Mário
Meira Teles, se manifestou pela primeira vez desde o início das
investigações. Ele não quis falar sobre nenhum caso específico, mas diz
que decisões normais tomadas numa UTI podem ser mal interpretadas. “A
não introdução de medidas que são fúteis, que são inúteis ou a retirada
de procedimentos que não têm nenhum beneficio ao paciente pode ser
interpretado pela promotoria, às vezes, como um procedimento que possa
apressar, que possa acelerar o processo de morte”, aponta .
O Ministério Público anunciou que vai pedir nesta segunda-feira (25) à
Justiça que a médica Virgínia Helena Soares de Souza volte para a
cadeia. A alegação é que a prisão é necessária para a garantia da ordem
pública, e para evitar pressão sobre testemunhas.
“Agora eu quero Justiça”, pede a viúva de Ivo, no encerramento da reportagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pela sua participação em nosso blog, sua mensagem será avaliada e depois anunciada!